─ Mas o “homem do conserto”
não vem? – perguntou Lúcia a sua irmã. Haviam combinado de se referirem assim
ao rapaz que viria ao seu apartamento naquele dia.
─ Xiiiiiiiu!!! O porteiro
ainda está ouvindo! – retrucou Celeste, informando baixinho à irmã que o tal
homem já havia ido embora.
─ Me conta como foi! Quero
saber! – sussurrou ao entrarem no elevador.
─ Calma! Quando chegarmos em
casa te conto. Imagina se alguém do prédio ouve! Você é louca de comentar na
frente do porteiro? Logo ele, um cara tão conservador... evangélico... O que ia
pensar de mim? Uma senhora de 66 anos, viúva, recebendo um garotão sozinha em
casa.
─ Ai, mas e aí? Finalmente, né?
Afinal, todo mundo lá no bingo já conhecia o... ainda precisa falar nele como o
“homem do conserto”? – ironizava tentando provocar Celeste, enquanto esta
cerrava a porta do apartamento.
─ É, é, é... eu sei que fui a
última da turma, não precisa me lembrar. Até a Antonia, que é casada já tinha
saído com ele.
─ Pois é. Até a Norminha, que
é tão sossegada! E a Silvia. Mas, desembucha, mulher! O que achou dele?
─ Meu Deus! – Celeste gelou ao
perceber que havia deixado no balcão da portaria o cartão com o whatsapp do
rapaz. Tateou todos os bolsos novamente, para ter certeza. Mas não ia descer
até lá agora. Tinha que atualizar a irmã sobre o que ocorrera ali naquela
tarde.
E assim foi. Passaram quase
duas horas conversando e, cansadas que estavam, acabaram caindo no sono ali
mesmo no sofá. Na manhã seguinte, após tomarem café juntas, Lúcia se despediu,
prometendo à irmã que verificaria discretamente se o tal cartão ainda estava
pela portaria. Entretanto, ao chegar no térreo, não encontrou nem cartão, nem
porteiro. Mas quando estava se preparando para descer os degraus da escadinha
que levava à rua, ouviu o barulho da porta do quartinho do porteiro se abrindo,
e qual não foi sua surpresa ao notar o tal homem do conserto saindo de lá
apressadamente, com os cabelos molhados.
Vai ver o chuveiro do porteiro
estava queimado...