quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016

Quase caberia num twitter

Quando o Messi faz dois gols após uma partida sem marcar é a mesma coisa do que se tivesse feito um gol por partida? 

*Não estou falando em média de gols. 
** Considere que são partidas equivalentes, isto é, nenhuma é final de campeonato, ou clássico, nem nada. 

Inóspito?

Tudo lá era limpo. 

O perfume sentia-se ao longe, cheiro de limpeza. De limpeza, não de produto de limpeza. 

Os móveis como cama, sofá, chaise longue eram extremamente confortáveis. 

A casa já vinha com empregados, todos simpáticos, competentes e atenciosos. 

A vista, além de sensacional, tinha a vantagem de ser permanente: a prefeitura proibia a construção de edifícios a partir de três andares na região. 

Mobiliado, equipado, pronto para morar. 

Mas inóspito. 

terça-feira, 23 de fevereiro de 2016

Assim como hoje

Nos dias em que estou cansada
as palavras não me vêm. 
Tento, em vão, escrever um bom post, 
para ser lido por alguém. 

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016

Há dias sem tomar banho

Carlos adorava passar o dia inteiro em casa. Um dos motivos principais para isso é que não precisava tomar banho.

Sua ex-esposa costumava reclamar disso. Com razão! Ele reconhecia. Mas agora que estava solteiro novamente não precisava se preocupar com isso.

Não pense você que ele era um sujeito desleixado. Tinha formação acadêmica invejável e um cargo de chefia em uma organização de prestígio. Apenas gostava de curtir um dia ou outro sem essa obrigação.

Nunca passara mais de uma semana sem banhos. Talvez seu recorde tenham sido cinco dias seguidos. Isso foi numa semana de Carnaval. Chegou sexta à noite em casa, cansado, e foi direto para a cama. No fim de semana, não precisou sair. O mesmo se repetiu até a Quarta-Feira de Cinzas. Suas únicas saídas foram até a casa do vizinho, Pedrão, seu amigo de longa data. E também à padaria, para comprar um lanche. Do resto, o delivery deu conta.

Na pior das hipóteses, já estaria acostumado caso decidisse morar num país nórdico.

domingo, 21 de fevereiro de 2016

Michael De Leon

Quem? 

Não está conseguindo conectar o nome à pessoa? 

Dica: está nesta página. Sim, nesta daqui. Lá no rodapé. 

Obrigada pela arte da janela da casa laranja! 

sábado, 20 de fevereiro de 2016

H2O

A imagem que vi era de um incêndio. Ironicamente, o foco era a caixa d'água, dessas azuis, redondas, de mil litros, com a marca estampada em branco na lateral.

É sério!

É poético também.

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2016

Tempo para meditar

Muitos são os artigos que atestam que meditar faz bem. Ainda assim, poucas pessoas conseguem incluir esse hábito em sua rotina. 

Por outro lado, muita gente reclama que passa horas no trânsito, ou em filas de diversos estabelecimentos (supermercado, banco, cinema). Por que, então, não usar esse tempo para meditar? 

Ao contrário do que muitos pensam, não é preciso sentar de pernas cruzadas em uma almofada, com incenso no ambiente e uma trilha sonora relaxante para poder acalmar a mente. Há várias técnicas de meditação. Uma delas envolve estar presente aqui e agora (mindfulness). Isso significa ter consciência de suas sensações no momento: que sons você ouve agora? O que está sentindo? Apenas reconheça o que acontece, sem julgar ou tentar alterar. 

Uma outra forma de meditar consiste em se concentrar em sua respiração. Novamente, sem intenção de controle. Se seus pensamentos se desviarem para outro local, retorne o foco, gentilmente, à sua respiração. 

Tente e me diga o que conseguiu, ok? 

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2016

Cidade da Preguiça

Fiquei sabendo da existência da Cidade da Preguiça. Sabe aquelas esteiras rolantes que tem entre os terminais de aeroportos, ou mesmo em algumas estações de metrô do exterior? Pois é, na Cidade da Preguiça, todas as calçadas são desse jeito. Assim, o povo não precisa fazer força para se deslocar de um lugar para o outro quando sai na rua. 

Errou quem suspeitou que ela ficasse na Bahia, embora fique lá em Salvador a Ladeira da Preguiça, muito famosa por conta da canção de Gilberto Gil, consagrada na voz de Elis Regina. 

Na Wikipedia, você consegue descobrir por que a ladeira leva esse nome. Agora, se você quiser saber mais sobre a cidade, terá que procurar em inglês: LazyTown. Aí irá encontrar informações sobre um seriado (que virou peça de teatro em Curitiba!) em que os personagens estimulam as crianças a serem mais saudáveis e ativas.

Xô, preguiça! 

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016

Etcetera

Eu, você, seus primos, etc. 

Onde está o erro na frase anterior? Acertou quem respondeu que a última palavra é o problema. E você saberia explicar o porquê? 

A palavra etcetera (e sua abreviatura “etc.”) vem do latim, e significa “e outras coisas”. Claramente, na sentença que introduz esse post, não estamos falando de coisas, mas de pessoas. E será que teria como dizermos isso de forma abreviada? 

Sim! Com outra expressão em latim: et al. (ou et alli), que corresponde a “e outras pessoas”. É um pouquinho estranho, mas os cientistas usam bastante em suas pesquisas científicas.

Eu, você, seus primos, et al.  

terça-feira, 16 de fevereiro de 2016

Horóscopo comentado

Seja no jornal impresso, em revistas, no rádio, na internet e, atualmente, até mesmo na programação das TVs dos vagões do metrô de algumas metrópoles, um sem-número de pessoas consultam, diariamente, as previsões para seu signo - algumas não saem de casa sem antes checar os astros. 

Não sei se o comentário é válido para todos, mas há astrólogos que andam meio sem inspiração. Determinados subterfúgios são usados com uma frequência maior do que deveriam: 

Áries: "Mudanças irão ocorrer em sua vida."

Sério? Será que o fato de estar vivo já não é suficiente para saber que posso casar ou divorciar, emagrecer ou engordar, adoecer ou sarar, enriquecer ou perder dinheiro... 

Touro: "Grandes chances de sucesso em um de seus projetos."

Impossível ser mais genérico! Afinal, quase tudo se encaixa como um "projeto": casamento, viagem, um novo filho, um trabalho social, mais um contrato com o cliente no trabalho, retomar os estudos. 

Libra: "Período favorável para conhecer um novo parceiro romântico. Se está comprometido, a relação será fortalecida."

Nesse, o vidente foi precavido, incluindo a adaptação para o caso em que a pessoa não está mais em busca de alguém. 

Além desses, há também estratagemas como usar a previsão de Escorpião da semana passada para os aquarianos no mês seguinte. 

Mas quem sou eu para criticar? Já é difícil ter criatividade para escrever um post por dia, que dirá 12 textos diários.  

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2016

Kindness generates kindness

I was told this one.

Monday morning. A lady was driving on a busy avenue in a large Brazilian city. The road limit was 35 mph, and that was her speed. Suddenly she can hear honks, and see someone's high beam. By the rearview mirror, she realizes a hasty guy asking requiring passage. Why didn't you leave home early? - she cogitated to yell at him, but refrained herself. Finally, she let him pass.

As he passed on her left, he rolled down his car window and showed her his middle finger and uttered a few expletives. After his car overtook hers, she could read on a sticker on the vehicle rear of the hasty guy: "kindness generates kindness."

Gentileza gera gentileza

Essa me contaram.

Manhã de segunda-feira. A moça dirigia em uma movimentada avenida de uma grande cidade brasileira. Estava a 60 km/h, que era o limite da via em que trafegava. De repente, ouve buzinadas, alguém atrás dá farol alto. Pelo retrovisor, percebe um apressadinho pedindo exigindo passagem. Por que não saiu de casa mais cedo? – pensou em berrar para ele, mas se conteve. Enfim, cedeu passagem.

Ao passar pela sua esquerda, o motorista baixou o vidro do carro, mostrou-lhe o dedo do meio, e proferiu alguns impropérios. Após ultrapassá-la, ela podia ler no adesivo da traseira do veículo do apressadinho: “gentileza gera gentileza”. 

domingo, 14 de fevereiro de 2016

Treino surreal

Comecei correndo na linda Lagoa Rodrigo de Freitas. Contornei-a duas vezes antes de, finalmente, saltar e cruzá-la por sobre suas águas, atingindo a outra margem. Mais uma porção de passos e começo a escalar a Pedra da Gávea. Meus batimentos cardíacos aceleram ainda mais. Já no topo, agarro com força na rabeira de uma asa-delta que passa pertinho de mim, aproveitando uma carona involuntária.  O Rio é esplêndido, mas preciso partir. Solto a asa-delta coordenando os movimentos para cair sobre o monomotor que acabava de levantar voo. Mais alguns minutos e deixamos o continente. Estamos sobrevoando Fernando de Noronha quando decido me jogar diretamente ao mar. Após mergulhar e submergir por dezenas de metros, volto à superfície e sigo nadando até a ilha: a paisagem é tão fascinante que chega a dar um aperto no coração quando pisco, como um lamento por perder um segundo desta vista divina.


Fim de treino. Amanhã tem mais! 

sábado, 13 de fevereiro de 2016

Não me provoque!

Surpreenda-me! Simples assim.

Mas me diga se não vier, pois não pretendo esperar em vão.

É preciso desprendimento para ser breve. Opa, já me alonguei...

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2016

Alma Minha

Logo ao acordar, recebeu a mensagem de sua amiga, dizendo que Caco solicitava sua presença na reunião com o cliente, naquela tarde. Inspirou fundo, fez cara de resignada, banhou-se, vestiu-se e saiu em direção ao trabalho. No carro, bem a calhar, ouvia Farrapo Humano e cantarolava junto com Luiz Melodia: “eu viro um farrapo, tento suicídio... com caco de telha, com caco de vidro...”. 

No fim do expediente, estava um caco! Mas a jornada havia sido compensadora: conseguiram o contrato! Para comemorar, saíra para jantar com o namorado e emendaram com um teatro. A peça era um porre! Cheia de cacos. Esses caras não se dão ao trabalho de decorar o texto decentemente? Pior que isso, só a cacofonia do microfone do narrador, que fazia o papel de Deus. 

Entendeu o porquê desse título? 

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016

7 regras para uma vida feliz

1) Não acredite que existem regras para ser feliz.

2) Sendo assim, não há motivo para continuar lendo o restante dos itens listados.

3) Você já viu alguma regra em forma de questão?

4) Não, porque não existe.

5) Embora até fizesse sentido, no caso em que a intenção fosse fazer com que a própria pessoa se questionasse sobre algo que a deixasse feliz.

6) Alterei o algarismo "10" no título do post para o valor atual, não apenas porque 7 é um número cabalístico (7 cores do arco-íris, 7 dias da semana), mas por falta de inspiração para me alongar na redação de um texto minimamente digno de ser lido por você.

7) Funcionou?

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016

Água, açúcar, gordura vegetal hidrogenada

Neste verão tropical, muitas vezes optamos por nos refrescar com um sorvete. Hoje mesmo, foi o que escolhi para sobremesa após o almoço. Nas poucas vezes em que faço isso, tenho consciência de que se trata de um auto-engano. Muitos dos sorvetes que comemos não passa de água, cheia de açúcar refinado e da tão famigerada gordura trans, além de outros ingredientes em menor quantidade, para acrescentar sabor e conservá-los por mais tempo.

Se você não é nutricionista, talvez não saiba que a apresentação dos ingredientes de um produto na embalagem segue a ordem decrescente, ou seja, o que vem escrito em primeiro lugar é o que aparece em maior concentração no produto. Nove entre dez chances de que no sorvete de pote que você consome eles sigam a mesma ordem apresentada no título deste post.

Então, quando bater aquela vontade de tomar um sorvete, não se iluda: é o seu vício pelo pó branco (açúcar refinado) te chamando!

terça-feira, 9 de fevereiro de 2016

Arda Turan, mas não o jogador

Nos últimos anos, sempre que se apresentava a alguém, Arda Turan tinha que esclarecer que não, este não era apenas seu apelido por alguma habilidade que tivesse com a bola nos pés. Tampouco era uma homenagem de seu pai ao seu xará mais famoso, até porque era um pouco mais velho que este.

Turan era publicitário e trabalhava no departamento de marketing de um banco de pequeno porte. Tirando a cor de seus olhos e cabelos, seu nariz proeminente, e o fato de conservar barba, não guardava quase nenhuma semelhança física com seu homônimo: não era atlético (sem trocadilho), nem alto. Assim, não era confundido com ele na rua. No entanto, ao reservar mesa em restaurante, quarto em hotel, marcar consultas médicas, ou em qualquer outra situação em que seu nome era fornecido sem que estivesse presente, sabia que criaria, inevitavelmente, uma expectativa que, mais tarde, seria desfeita.

Isso era mais intenso quando morava na Europa, e constituiu um dos motivos para considerar sair de lá. Não chegava a lhe dar muita vantagem com as mulheres. Fato é que, ainda morando no antigo continente, vez ou outra recebia ligações de maria-chuteiras - como será que conseguiam seu número? Mas nada que rendesse mais do que eventuais encontros isolados.

Um tempo atrás, na mesma época em que o clube madrilenho de seu conterrâneo sagrava-se campeão da Liga, Turan namorava uma espanhola cujo o tio era torcedor fervoroso do Barça, aliás, time de toda a família da moça. A relação terminou no dia seguinte à obtenção do título pelo Atlético.

Atualmente, dadas as brilhantes atuações do meio-campista neste início de 2016 em sua nova equipe, Turan (o publicitário) tem cogitado ligar novamente para a garota.

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2016

Confuso horário

 Todos os dias quando acordo não tenho mais o tempo que passou, mas tenho muito tempo. Temos todo tempo do mundo. 

– Legião? 

– Não, é um trecho de um ensinamento budista.  

– Sério? 

– Uhum! Estava meditando sobre o tempo. 

– Ah, é? Pensando sobre a vida? 

– Na verdade, era de um jeito mais prático. Essa coisa de fuso horário, para oeste você aumenta as horas, para leste, diminui... Isso sempre me confundiu um pouco. 

– Hmm... 

– Estava pensando: se eu pegar um voo no Brasil em direção à Europa em 31 de dezembro, quando se comemoraria a virada do ano? Na meia-noite brasileira ou na do país de destino? 

– [Risos] 

– Ou será que eles comemorariam duas vezes dentro do avião? Para agradar quem está partindo daqui e quem está regressando a sua origem? 

– Sei lá! E se fosse na direção contrária, tipo, voltando da Europa para o Brasil? 

– O que tem? 

– Seria o oposto? Quer dizer, em vez de ter meia-noite duas vezes, não teria nenhuma? 

– Não, mas lá é mais tarde do que aqui. Você poderia comemorar a virada do ano lá, pegar um voo para cá, e chegar em tempo de comemorar novamente. Isso teoricamente, já que o tempo de voo não seria tão curto assim. 

– É, meio confuso mesmo. 

– É. 

domingo, 7 de fevereiro de 2016

A-E-I-O-U

Admiravelmente escapara ileso, ontem, Ulisses.

Antes encontrava-se incapacitado ou ultra-sensível.

Agora estava inquieto, ostentando úlceras.

Amado Escobar inibia outros urubus.

Antônio, enquanto isso, oferecia unguento.

Arlete e Irene oravam unissonamente.


sábado, 6 de fevereiro de 2016

Futsal na tv

Você acompanha o campeonato europeu de futsal?

Hoje a Sérvia derrotou Portugal em casa, por 3 a 1. O jogo foi bom, muito movimentado, principalmente no primeiro tempo. Os sérvios abriram o placar (ainda que eu lembrasse o nome do jogador, nem sei se é possível acentuar as consoantes neste teclado, como os povos dos balcãs fazem). Os portugueses empataram ainda antes do intervalo, mas levaram dois gols na etapa final da partida.

A torcida, que compareceu em peso em Belgrado, empurrava seu time com animação. A Arena Belgrado é linda, enorme e muito bem organizada (com espaço suficiente para os técnicos e reservas, diferentemente de muitos ginásios brasileiros), mas o destaque do dia foi um camisa 10: Ricardinho. Esse português de 30 anos, eleito duas vezes o melhor do mundo na sua modalidade esportiva, marcou um golaço que fez valer o ingresso: chapelou seu marcador, amorteceu a bola no peito e meteu de esquerda para dentro da rede. Vale a pena buscar o vídeo na internet!  

Portugal, agora, enfrentará a Espanha pelas quartas de final, na próxima segunda-feira quando, se der a lógica, se despedirá da competição.

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2016

Tudo começa na mente II

Dando continuidade ao assunto que começamos a explorar no post anterior, é por meio da intenção de uso que atribuímos significado ao mundo a nossa volta. Um campo de futebol não é definido pela metragem de seus lados, ou pela demarcação da grande área e do círculo central. Há campos de diversos tamanhos, muitas vezes sem gramado, outras até mesmo sem traves. Em essência, o que faz daquele espaço um campo de futebol é a intenção de um grupo de pessoas em utilizá-lo para jogar bola.

O mesmo raciocínio pode ser empregado às edificações humanas. O que faz de uma construção um templo? Se colocarmos uma cruz sobre o telhado de um motel ou de um posto de gasolina, teremos, automaticamente, uma igreja?

Há um conto budista em que um dos personagens faz uma série de indagações ao outro sobre o que seria a essência de um templo. Nas suas tentativas de resposta, este percebe que não é o mobiliário, nem são os quadros de monges pendurados. Tampouco os utensílios usados nos rituais. Nem mesmo as paredes que dão forma àquele abrigo. Pense comigo: o local em que você mora hoje e chama de casa, se o demolirmos e construirmos aí um sobrado para você morar, poderá continuar sendo sua casa. Se o destruirmos, novamente, e edificarmos um prédio, também continuará sendo seu lar. Tudo ao chão, outra vez, e agora elevamos uma cabana: ainda a sua moradia. A partir daí, concluímos que, apesar de relacionarmos nossa casa às paredes e ao formato que ela possui momentaneamente, o mais importante ali é o espaço que ocupamos.

Esvazie sua xícara!

PS: A frase correta proferida por Bruce Lee é "the possession of anything begins in the mind".

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2016

Tudo começa na mente

A frase que dá título ao post é de autoria de Bruce Lee.

Em uma das palestras a que assisti, o orador desafiou a audiência a dizer o que era uma camisa. Não apenas reproduzir a definição de dicionário, mas, em essência, reconhecer o que faz com que um objeto seja considerado uma camisa. À primeira vista, pode parecer algo óbvio, contudo, mesmo algumas definições que consultei não dão conta do recado.

Uma delas começa com "peça de vestuário masculino"... Béhhh! Apenas masculino?
Outra: "peça de vestuário, de tecido leve, mangas compridas ou curtas"... Espere aí! E se eu cortar as mangas de uma camisa? Ela vira outra coisa? Ou posso chamá-la de "camisa sem manga"? Independentemente da baixa frequência desse tipo de vestimenta, ao ouvir "camisa sem manga", todos serão capazes de formar uma imagem mental do que digo, o que representa que a essência ainda está lá.

Encurtando a história, no fim, o palestrante dizia que o que faz de algo uma camisa é seu uso, ou melhor, a intenção de uso. E essa intenção está na mente, não em algo concreto, como um determinado tecido (posso costurar várias tampinhas de plástico unidas de forma a criar uma camisa).

Isso me recorda um conto budista, que explorarei em um próximo post.

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2016

Ventilador

Que calor!

Você já assistiu a'O Palhaço, que tem Selton Mello dirigindo e atuando no papel principal? Esse longa é premiadíssimo: angariou mais de 50 estatuetas e estava na lista de possíveis indicados ao Oscar de melhor filme estrangeiro no ano de seu lançamento - mas acabou nem concorrendo.

O caso é que, nessa trama, há a participação especial de um ventilador - nada de mais para um ator que já dublou um liquidificador no filme que apresenta as reflexões desse eletrodoméstico. Uma das angústias do palhaço, que enfrenta uma crise de identidade, reside, justamente, em conseguir dinheiro para adquirir um aparelho desse para aliviar o seu calor na estrada.

São várias as interpretações para esse objeto. Uma delas remete ao movimento das pás, que pode simbolizar a sucessão de ciclos, como a vida. Vem a calhar com a revisão que o palhaço faz de sua jornada até aquele momento. Outro possível significado tem relação com Cervantes, por conta da semelhança física com os moinhos de vento de seu Dom Quixote.

Mas, nesse calor, o ventilador me vem a mente em virtude de seu uso mais óbvio mesmo. De qualquer modo, se você ainda não viu, o filme vale a pena!

terça-feira, 2 de fevereiro de 2016

Café da manhã em Florença

Hmmmmmmmm! Como descrever esse acontecimento?

O visual contribui ainda mais para essa experiência. Abrir a janela e dar de cara com a belíssima catedral da cidade, a qual, segundo consta, pode ser vista a partir de qualquer parte de Florença.

Não há música no ambiente, mas os sons são extremamente agradáveis aos ouvidos. Não, não são pessoas falando com as mãos. Até há italianos aqui, mas se misturam a muitas outras nacionalidades. Na mesa ao lado, falam alemão. Ok, é uma região turística, muito próxima do Duomo.

A mocinha que recepciona os hóspedes durante o café fala inglês. Não nasceu aqui, como seus olhos puxados indicam. Seria chinesa? As ruas estão tomadas por seus conterrâneos. Fotografam tudo! Compram muito também. E olha que as lojas por aqui vão de Versace a Dolce & Gabbana, passando pela nativa Gucci.

Como de tudo. De tudo! Não quero deixar de provar nada. É um hotel três estrelas, portanto, serve café continental. Mas imagine-se saboreando sua primeira refeição no Velho Continente. Só isso já deixa tudo delicioso! O cheiro é bom! Cheiro de café é sempre bom! Será que esse veio do Brasil? Dizem que nosso melhor café só é encontrado no exterior.

Croissants, pães para colocarmos na torradeira, frios, iogurte, cereais matinais, leite, frutas. Ah, as frutas! Qual será o nome dessa que parece uma variação de laranja? E de quais delas são feitos os sucos disponíveis na máquina? Pelo sabor, devem ser naturais - nada de p(ó)zinho ou néctar. Falando em néctar, tem mel para adoçar meu chá. Sachês de manteiga e de geléia completam a lista de possibilidades.

Analisando as mesas ao redor, parece que o meu café da manhã é o mais feliz de todos!

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2016

Corte de Gastos - PDF

PARTE I

CENA 1

Em um dos cômodos de uma produtora de conteúdo, dois dos produtores-gestores conversam sentados próximos um do outro. Um deles, segurando uma prancheta com a relação de funcionários, propõe a demissão de alguns destes, ao que o outro retruca, com a justificativa de que todos desempenham funções vitais ao bom funcionamento da equipe. O primeiro, então, diz que não vê necessidade em contarem com um continuísta, com o que o segundo concorda [Durante esse trecho, haverá erros de continuidade. Por exemplo: o óculos de um deles aparecerá apenas em um dos planos; o copo do outro irá sumir e reaparecer; a caneta aparecerá ora atrás da orelha do que segura a prancheta, ora em sua mão.]  

Direção de arte não é importante para vídeos veiculados na internet, justifica o primeiro, para a imediata concordância do segundo. 
[Aqui, toda a decoração do cenário ao fundo, que o identificava como uma produtora, é excluída, restando apenas uma sala branca, vazia, com as duas cadeiras em que os produtores estão sentados.] 

O segundo não hesita, também, em concordar com a demissão do figurinista.
[A caracterização dos personagens desaparece, ficando estes com roupas casuais, como se estivessem em casa em um fim de semana.] 

Basta a menção do diretor de fotografia pelo primeiro, para que a decisão de eliminá-lo seja confirmada. 
[A iluminação do cenário se resume a lâmpada do cômodo. O jogo de luzes é limado.] 

"E o que o foquista faz?" indaga o primeiro [a imagem aparece desfocada] ao que seu colega aconselha a mantê-lo [o foco é recuperado neste momento]. 

"E o som?", novamente questiona o primeiro. "Hoje em dia ninguém repara nisso. Dando para ouvir, está ok.", devolve o segundo. 
[Nesse momento, o som é sujo, com os ruídos do ambiente sendo captados também, interferindo no áudio dos personagens.] 

Apesar de o primeiro considerar que o corte do elenco é algo mais delicado, o segundo tem opinião oposta. 
[O personagem que interpreta o segundo produtor é substituído por um não-ator no quadro seguinte.]

- Equipe de edição?, pergunta o primeiro produtor. 
- Edição? [lembrando, aqui é o não-ator que permanece em cena]
- É, vamos demitir? 
- Ah, sem problema. Tem uns primos meus que fazem edição.
- Ok. 
[Todo esse trecho apresenta cortes bruscos de edição, e sobreposições mal feitas.]

Por fim, o primeiro produtor questiona: "E se demitíssemos o roteirista?"
O segundo resmunga algo, o primeiro faz um barulho com a boca, o segundo faz outro barulho, o primeiro não sabe o que dizer, o segundo fica mudo.